quarta-feira, 28 de maio de 2008

com o pensamento em outro lugar



Ouviam-se barulhos estranhos que vinham do mato perto da casa de madeira.
Já era noite e todos haviam voltado para casa jantar e passar um tempo com a família. Mesmo que a televisão prendesse os olhos do menino, com as suas cores cintilando sobre seus pequenos olhos, ele não tirava o ouvido do que seu pai, sempre com as mesmas roupas quando fica em casa: camiseta de eleição, calça de moletom ou shorts de futebol e um chinelo tipo Ryder. Contando anedotas que estavam na cara que era mentira, e a mulher ouvindo e concordando.
O menino como numa hipnose ouvia ao mesmo tempo seu pai falar do dia de trabalho e um ruído estranho que vinha do mato, os barulhos se misturavam e as folhas pareciam gritar como num sussurro coletivo. Logo o menino já não sabia de nada, só conseguia pensar no que estava lá fora, no escuro, andando naquele terreno que há muito tempo o dono não se via. O olhar arregalado tentando entender tudo sem que a vista pudesse ver, na hora da janta, uma das últimas coisas sagradas que a família de fato ainda cumpria com religiosidade, comendo aquele pão com queijo e uma alface no meio, único lugar que o menino come coisa verde dentro da comida.

2 comentários:

FRANCISCO GUSSO disse...

essa ilustra do xupa-cabra ficou boa pra kct

Lou dog disse...

Maneiro!